quinta-feira, 29 de março de 2012

O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios
Não gosto das palavras
fatigadas de informar
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes
Prezo insetos mais que aviões
Prezo a velocidade das tartarugas
mais que a dos mísseis
Tenho em mim esse atraso de nascença
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos
Tenho abundancia de ser feliz por isso
Meu quintal é maior do que o mundo
Sou apanhador de desperdícios:
Amo os restos com as boas moscas
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto
Porque eu não sou da informática:
Eu sou da invencionática
Só uso a palavra para compor os meus silêncios

terça-feira, 27 de março de 2012

Efêmera

Martela o tempo preu ficar mais pianinho
Com as coisas que eu gosto
E que nunca são efêmeras
E que estão despetaladas
Acabadas
Sempre pedem um tipo de recomeço

Vou ficar mais um pouquinho, eu vou
amor bom
amor sensato
que não fica
na sola do meu
sapato

segunda-feira, 19 de março de 2012

C'est la vie. C'est fini

Menos cabelo e mais barba
o tempo chegou
enquanto o ponteiro girava
você nem reparou
que aumentava a distancia
entre o prazer e a dor

Aquela goiaba apanhada
virou goiabeira, tem flor
mas a lousa que te ensinava
repete o que te mostrou
que a força carrega a massa
e que o tempo apaga o rancor

Formas do nada

Horácio no Baixo (Odes I, 11)

Tentar prever o que o futuro te reserva
não leva a nada
Mãe de santo, mapa astral e livro de autoajuda
é tudo a mesma merda
O melhor é aceitar o que de bom ou mau acontecer
O verão que agora inicia
Pode ser só mais um
Ou pode ser o ultimo
Vá saber!
Toma o teu chope, aproveita o dia
E quanto ao amanhã...
O que vier é lucro.

terça-feira, 6 de março de 2012

Vi tudo que se faz debaixo do sol
e eis:
tudo vaidade e vento que passa

O intelectual

é um urubu
que se julga vestido
mas está nu
com uma pena de pavão
enfiado no cu