quinta-feira, 29 de março de 2012

O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios
Não gosto das palavras
fatigadas de informar
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes
Prezo insetos mais que aviões
Prezo a velocidade das tartarugas
mais que a dos mísseis
Tenho em mim esse atraso de nascença
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos
Tenho abundancia de ser feliz por isso
Meu quintal é maior do que o mundo
Sou apanhador de desperdícios:
Amo os restos com as boas moscas
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto
Porque eu não sou da informática:
Eu sou da invencionática
Só uso a palavra para compor os meus silêncios

1 comentários:

saborcomletras disse...

Amo, Manoel de Barros... Sempre me identifico.

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